Anne-Cécile, só com a sua presença, tinha acabado de fazer, sem saber, um presente que só podes dar os que amam apaixonadamente a existência. E esses seres excepcionais, os personagens dessa série, a amam acima de tudo. Por cima de seu organismo mutilado ou de teu espírito mergulhou nas trevas.
Anne-Cécile tem vince e seis anos e é campeã de natação. Danny, o lobisomem, de 22 anos, é trapezista no circo. Connie, de trinta e quatro anos, parece uma manequim china. Grace Volcano, de 45 anos, o hermafrodita, é fotógrafo artístico. Lori e Reba, de quarenta anos, as irmãs siamesas que têm tuas cabeças unidas uma pela outra, na realidade são 2 seres muito diferentes. Localizar estes protagonistas e fazer com que acessem posar para a câmera de Gerard Rancinan foi um trabalho árduo e complicado.
Demoramos 2 anos pra introduzir todo o instrumento e agora tivemos mais de 80.000 quilômetros pra nos deslocarmos até os locais onde vivem. Consultamos dezenas de pessoas até conseguir trinta nomes que encajaran no nosso projeto Elogio da diferença. Curiosamente, o candidato que mais nos custou convencer é o que abre a série, Danny, o homem lobo, que trabalha em um circo itinerante que percorre as vilas e cidades do México e dos Estados unidos. Mas, apesar das dificuldades, tivemos sorte e não foram vários os que se recusaram a posar, só aqueles que não se aceitam como são.
A genealogia dos corpos dos que quiseram aparecer por esse trabalho é uma geografia dos abismos. Então, no começo, no momento em que você começa a conversar com eles, aproximadamente sem conhecê-los, você sente terror. Talvez em consequência a esse susto se lhes condena ao ostracismo numa sociedade que se empecina em modelar o homem ideal. Nos aborrecer. Chamam à ordem de nossos demônios de sempre, enterrados no fundo da memória de nossa espécie.
Ferem o nosso olhar, agitam nossas instalações e nossas certezas. E abandonamos a vista. Mas, algumas vezes, os olhares se domestican com um pouco de treino e deste jeito são capazes de visualizar em profundidade o ser humano que se tem em frente. Assim, somos capazes de enxergar o que não está autorizado: pessoas que só são o que são e que são tudo o que eles são.
Como se estivessem saturados por sua própria realidade. A chamada que sente, desse modo, o observador é forte e intensa. Aqui, ao lado de eles, no tempo em que contam suas esperanças e seus sonhos, das dificuldades que têm de superar, você se apresenta conta de que sua existência não está, afinal de contas, isento de sedução.
, E de risos, pois que, de alegria. E ainda mais: de generosidade. A diferença é como a ferida que produz um prego pela carne, que é capaz de aguçar os sentidos e a alma. Aparentemente, são um punhado de seres disformes, mas se comportam como adultos e afirmam que são capazes de viver sem buscar socorro em ilusões vãs ou em esperanças e ignorantes.
- Jorge Plascencia Sánchez (33), cronista esportivo mexicano (n. 1971)
- 10 Jill Tuck
- nove O coelho Branco (capítulo 6)
- 9×05: Bonito Destino
Só se espera aquilo que a pessoa é incapaz de querer, diz Hervé, que cultiva uma vida sem expectativa. Estão contra a parede. Sua vida se torna muito difícil em cada instante, o próximo contratempo que é preciso exceder. Esse bloqueio podes ser um botão de elevador muito alto e o que é impossível chegar a uma escada íngreme e estreita que não podem subir, um enxergar de uma pessoa que se afasta de seu caminho e o
surpreso que corre atrás deles. Necessita conquistá-lo todo. A Cada dia, Anne-Cécile desviar os olhares atemorizadas, que se pousam sobre o corpo doente. A Cada dia, Hervé tem que transpor o pátio do edifício onde vive, mesmo que teu corpo seja uma espécie de cadeira de rodas.